Correr 1 km a mais a cada dia, de 1 a 31 de Julho, num total de 496km.
Como é que escolhes um desafio para fazer? Quando é que sabes que é AQUELE o desafio que queres fazer? No meu caso é quando o meu coração vibra de excitação e rasgo um sorriso de orelha a orelha. Quando tenho aquele momento: “ahhhhh é isto”. Quando isso acontece, sei que é esse o caminho e que me vou divertir à brava. Muitas vezes não sei ao que vou, preparo-me só o suficiente para arrancar. O resto, faz-se pelo caminho.
Atenção que eu não sou exemplo para ninguém. Nada do que faço é exemplo de rigor e disciplina, porque faço tudo com o coração. Faço-o no fervilhar da adrenalina e paixão. A esta hora está o meu pai a dizer: “magana da moça que não tem juízo”!!!
Mas sempre fui assim. A minha natureza é de desafios. Constantemente à procura de superar desafios que me entusiasmem e que testem os meus limites.
O Sean Conway lançou este desafio #496challenge em Janeiro deste ano mas só agora é que consegui fazê-lo (lê aqui porquê). Tantos meses para o fazer e, esperta, tinha de escolher logo o pior mês do ano, Julho. Na força do calor (45.º), pico de trabalho, marido com pé partido, miúdos de férias e aqui a pató das iscas resolve complicar mais a vida. Não lembra o diabo, mas a verdade é que sempre eram 1 a 3 horas de tempo só para mim. A sofrer, mas era tempo só para mim.
Bom! Feito o desafio, deixa-me contar-te como correu:
Estatística:
- 31 dias de corrida
- Distância total: 496km
- Equivalente a 11,8 maratonas e/ou 23,7 meia-maratonas
- Calorias gastas: 30.333
Dificuldades:
- Temperaturas altas (média 37º) que me levaram ao ginásio nos dias de calor extremo (46º). Correr 25 km na passadeira?! Minha nossa senhora. Um desafio à força mental e à paciência, muuuuita paciência e a tentar não ficar vesga de olhar para o ecrã;
- Falta de treino e força muscular. Até foi bom ter acontecido porque levou-me a ter um cuidado diário nos alongamentos e no pós-treino. Abençoado rolo da massa. Não quero outra coisa;
- Coordenação com logística familiar e trabalho. Foi “A” verdadeira ginástica para conseguir conciliar tudo. Não havia tempo para recuperação porque assim que entrava em casa e saía daquela bolha maravilhosa de “tempo para mim”, voltava à realidade e aos banhos rápidos para ir a correr preparar o jantar, deitar os miúdos, arrumar casa, etc. Houve dias em que precisei de fazer 2 treinos em menos de 24h de descanso para conseguir conciliar tudo;
- Encarar o dia “22”. Nunca tinha pensado no tema até o Bruno ter feito um gráfico de excel com a programação do acumulado do desafio (ele é mais cerebral e geek do que eu). Ia morrendo quando percebi que só no dia 22 é que tinha feito pouco mais de metade do desafio 253km e que em 9 dias teria de correr os restantes 243km. Nem nunca mais olhei para o raio do gráfico!!!!.
O que me encheu a alma de alegria:
- Tempo para mim;
- Partilha do desafio com o Bruno e os miúdos que vibram muito com estes desafios que a mãe faz;
- Partilha do desafio com a minha rede de amigos que me apoiaram desde o dia 1. Passou a ser um desafio nosso em que todos vibrámos, “corremos” e celebrámos juntos;
- Ter conhecido pessoas de várias partes do mundo que estavam a fazer o mesmo desafio e sentir-me parte da “tribo”;
- Ter conseguido viver este desafio e todas as dificuldades que vêem agarradas a ele DIA-A-DIA, ou seja, ter vivido absolutamente no presente por tanto tempo. Este foi um desafio longo e é difícil manter a cabeça focada no passo que dás hoje sem sofrer de ansiedade pelo dia de amanhã. Sempre é um km a mais que ontem. Mas lá está!… Resulta muito de saltar para estas experiências de coração aberto e a querer desfrutar do momento. Se fosse pensar no dia de amanhã, nos quilómetros que tinha para fazer no dia seguinte, eu tinha a certeza que iria começar a ter consciência das dores que sentia no corpo, do cansaço acumulado e a sentir-me angustiada com o que ainda tinha pela frente. Todos os dias dizia para mim: “arranca só”;
- Ter acabado os 31kms a sprintar. Ainda houve quem me desafiasse a fazer os 500kms redondos, mas esse não era o desafio. Fiz estes últimos 31 km com um sorrido de orelha a orelha. Sofri tudo no dia anterior e, no último dia, corri a flutuar na companhia das minhas amigas que têm a pachorra de aturar estas maluqueiras (elas são iguais e eu estou lá tb para elas. Cada uma mais louca que a outra), a dizer adeus a quem me cumprimentava ao longe e a dar força. Foi uma superação maravilhosa.
O que precisas para fazer este desafio:
Vontade e paixão por correr. Precisas mesmo de vibrar com esta ideia, o suficiente para arranjares maneira de o conseguires fazer. Quando queremos muito uma coisa, movemos mundos e fundos para a conseguir. Não corres rápido, corres devagar, no teu tempo e a desfrutar cada passo que dás a mais.